A indústria dos games passa por uma grande revolução nos 
        últimos anos, principalmente no modelo de negócio, incluindo experimentação com 
        esquemas como DLCs (no seu smartphone são os tais in-app 
        purchases),bundles e promoções. Estes dois últimos são 
        amplamente celebrados porgamers mundo afora, mas talvez sejam ruins 
        para os desenvolvedores e até para os próprios jogadores.
    
        O Steam tem hoje uma média de 5 grandes 
        promoções por ano, sem contar as reduções de preço feitas pelos próprios 
        desenvolvedores o ano todo. O desenvolvedor indie 
        Jason Rohrer escreveu um post em seu blog explicando porque “o excesso de 
        promoções é ruim para os jogadores”:
    
        
            “Promoções 
            são sacanagem com os fãs. Seus 
            fãs amam seus jogos e aguardam ansiosamente pelo seu próximo lançamento. Eles 
            querem comprar seu jogo assim que sair, a preço total. Mas é tolice fazer isso, 
            porque uma promoção estará logo ali.
        
            Mesmo em termos econômicos, a vantagem de jogar um game no lançamento não é grande o 
            suficiente para compensar o dinheiro extra, para a maioria das pessoas. Faz mais 
            sentido esperar, a não ser que os fãs realmente amem seu trabalho e queiram 
            jogar a razão econômica pela janela.
        
            É bom ter fãs que amem seu trabalho tanto assim. E são estes fãs que vão te dar 
            um chute nos dentes quando seu jogo entrar em promoção.”
    
    
        Tanta promoção fez com que as pessoas parassem de comprar os jogos no lançamento 
        e agora esperam pra poder comprar por um preço menor, o que a longo prazo 
        resulta em menos lucros para os desenvolvedores, além de diminuir a comunidade 
        em torno de um jogo. Ambos os lados saem perdendo e eu vou dar um exemplo bem 
        tosco:
    
        Esperamos anos infindáveis por um novo Diablo. 
        Suponha que a Blizzardtenha 
        levado tanto tempo pra lançar o game porque não é uma developer 
        AAA. Aí enfim o jogo chega à loja por $39.99 mas você não quer pagar este 
        valor porque sabe que dali uns dois meses ele provavelmente entrará em promoção 
        e custará $19.99 – bom, não é? Não, porque passaram-se meses desde o lançamento 
        do jogo que não conseguiu criar uma base de usuários… pense jogar online e não ter quase ninguém pra interagir. 
        Além disso, o hype em cima do jogo já passou e fica mais 
        difícil criar uma comunidade em volta dele. Por fim, também passaram-se meses 
        sem divulgação, já que as pessoas não estavam jogando e comentando. Mas é bom 
        pra developer, 
        porque vende bastante né? Não, porque se ela não tem investimento de fora e 
        depende da venda dos jogos pra continuar trabalhando, por causa da promoção 
        seu lucro caiu pela metade.
    
        A solução de Jason foi parecida com a das vendas de Minecraft. 
        Ele colocou seu game Castle Doctrine na pré-venda com 50% de desconto, 
        durante a semana do lançamento deixou o desconto em 25% e, agora, o game está com preço integral e nunca vai 
        entrar em promoção. “É uma medida que pode incentivar a compra na hora do 
        lançamento, mas deve afastar novos jogadores a longo prazo”, afirma Luke 
        Plunkett, do Kotaku.
    
        Mas eu tenho uma visão diferente. O cara tem argumentos bastante razoáveis (leia 
        o post dele), principalmente em se tratando de preço mais 
        baixo para fãs que compram logo, boa base de jogadores no lançamento (o que 
        melhora a experiência online) 
        e uma boa grana pra upgrade nos servidores dos jogos (que todos 
        sabemos que é necessário conforme a base de jogadores aumenta) e para melhorias 
        e reparos de bugs. 
        Do ponto de vista do desenvolvedor, este modelo de negócio parece mais 
        interessante, sem dúvida.
    
        Eu, como jogador, acho que este modelo de negócio que ele propõe também 
        é bom! Porque evita compras por impulso e que tenhamos uma biblioteca 
        cheia de games que a gente nunca vai jogar (quem 
        nunca comprou games em promoção no Steam que até hoje não jogou, que atire a 
        primeira pedra). Vejo como exemplo meu PS2 e Wii desbloqueados e eu tenho uns 60 jogos 
        pra cada um deles, dos quais eu joguei meia dúzia… já quando comprei o PS3 e 
        agora mais recentemente com o 3DS e o Wii 
        U, eu preciso pesquisar melhor e planejar melhor as minhas compras, o que 
        me deixa com menos games mas garante que eu jogue todos eles – 
        e eu enxergo isso como economia de dinheiro, porque posso até pagar 150 Reais em 
        um único game, 
        mas sei que não irei gastar 150 com 10 games em 
        promoção que eu nunca vou jogar – então meu investimento vale a pena em horas de 
        jogo.
    
        Pra terminar, eu não sou contra bundles e promoções e nem acho que o Gabe 
        Newell seja Deus (como na imagem 
        do topo) ou o Diabo, afinal são apenas negócios (além do que o Steam não obriga nenhum developer a 
        participar de promoções). Mas concordo que há um lado bom e um lado ruim, e a 
        indústria precisa restabelecer certos pontos para que todos, de fato, sejam 
        beneficiados.
    
    Texto por Flavio Dechen - publicado em http://playagaingames.wordpress.com/